É cada vez mais frequente depararmo-nos com crianças que começam a falar mais tarde. Cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento. Todas as crianças passam pelas mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem, mas nem todas o fazem com a mesma idade. Entre os 9 meses e os 12 meses a criança começa a balbuciar (palrar, juntar sons e repetir sílabas sem significado). Aos 12 meses diz a primeira palavra com significado (diz “mamã” com intenção de chamar a mãe). Aos 15 meses compreende e segue ordens simples. Aos 18 meses diz cerca de 20 palavras. Aos 2 anos diz cerca de 50 ou mais palavras e começa a combinar palavras para formar frases simples.
Quando a criança passa por todas estas etapas de desenvolvimento normal da linguagem, mas o faz mais tarde em relação à norma, dá-se o diagnóstico terapêutico de Atraso no Desenvolvimento da Linguagem.
Algumas das possíveis causas para o Atraso no Desenvolvimento da Linguagem são as otites recorrentes (que impossibilitam a audição para aprendizagem da linguagem e provocam perda auditiva), o uso da chupeta (que deverá ser retirada até aos 2 anos de idade), atraso no desenvolvimento global, hereditariedade, bilinguismo (por parte de familiares bilingues ou através dos atuais vídeos que as crianças veem em Português do Brasil e prejudica a aprendizagem correta da linguagem do Português Europeu), problemas neurológicos e falta de estímulo. No caso da falta de estímulo, podemos ter dois cenários: a criança não frequentar a creche, ou não ser estimulada em contexto familiar, se for o caso de corresponderem às necessidades da criança apenas quando ela aponta, sem ser necessário ela falar. Outra causa atual é a pandemia, pelo facto de as crianças estarem em confinamento, não podendo interagir com outras crianças. Além disso, o uso de máscara pelos adultos, não permite a leitura labial por parte das crianças para aprender os sons e as palavras corretamente.
Os sinais de alerta aos quais os pais deverão estar atentos são os seguintes:
Aos 12 meses:
Não reconhece o seu nome,
Não usa gestos para comunicar, tais como apontar ou acenar;
Aos 15 meses:
Não compreende “não”, “adeus”, “papa”;
Não palra ou vocaliza sons;
Aos 18 meses:
Não diz as primeiras palavras,
Prefere os gestos às vocalizações para comunicar,
Tem dificuldade em imitar sons,
Tem dificuldade em compreender ordens simples;
Aos 2 anos:
Não possui um vocabulário com mais de 20 palavras,
Palra demasiado,
Não combina duas palavras para formar frases,
Consegue apenas repetir palavras, não dizendo espontaneamente para nomear os objetos mais comuns,
Não consegue falar para comunicar mais do que as suas necessidades imediatas,
Não aponta para as partes do corpo.
A família deve conseguir perceber cerca de metade do discurso da criança aos 2 anos, e cerca de três quartos aos 3 anos. Aos 4 anos o discurso da criança deve ser percetível, mesmo por quem não a conhece.
Existem estratégias que podem estimular o desenvolvimento da linguagem da criança, e que podem ser aplicadas em contexto familiar:
Falar e comunicar muito com a criança, usar gestos sempre que possível com o objetivo de melhorar a compreensão, e pedir à criança para imitar os sons e os gestos. Falar sempre com clareza, usando frases curtas, simples e corretas, não devendo falar à bebé. Pedir à criança para responder a ordens simples relativamente a atividades diárias (por exemplo, “vai buscar o jogo”, “acende a luz”, “calça os sapatos”).
Estimular a compreensão da linguagem, explicando à criança o que estão a realizar naquele momento. Aproveitar as atividades do dia-a-dia para nomear os objetos e pedir para a criança os identificar e repetir, para aumentar o vocabulário, de preferência por categorias:
Partes do corpo e peças de roupa (enquanto dá banho ou veste a criança),
Alimentos (nas refeições, nas compras ou a cozinhar),
Nomes de pessoas, mobília, animais, cores, números, transportes.
Ler para a criança, começando ainda quando é bebé, adaptando os livros à idade, de preferência livros com imagens para a criança as nomear.
Identificar e tratar o Atraso no Desenvolvimento da Linguagem de forma precoce é a melhor abordagem, para que a Terapia da Fala seja efetuada com o tempo adequado e a criança consiga comunicar e falar com eficácia muito antes da entrada no primeiro ciclo, para que haja uma correta aprendizagem da leitura e da escrita.
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