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Tem 2 anos e não fala?

Foto do escritor: Joana BastosJoana Bastos

É cada vez mais frequente depararmo-nos com crianças que começam a falar mais tarde. Cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento. Todas as crianças passam pelas mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem, mas nem todas o fazem com a mesma idade. Entre os 9 meses e os 12 meses a criança começa a balbuciar (palrar, juntar sons e repetir sílabas sem significado). Aos 12 meses diz a primeira palavra com significado (diz “mamã” com intenção de chamar a mãe). Aos 15 meses compreende e segue ordens simples. Aos 18 meses diz cerca de 20 palavras. Aos 2 anos diz cerca de 50 ou mais palavras e começa a combinar palavras para formar frases simples.


Quando a criança passa por todas estas etapas de desenvolvimento normal da linguagem, mas o faz mais tarde em relação à norma, dá-se o diagnóstico terapêutico de Atraso no Desenvolvimento da Linguagem.


Algumas das possíveis causas para o Atraso no Desenvolvimento da Linguagem são as otites recorrentes (que impossibilitam a audição para aprendizagem da linguagem e provocam perda auditiva), o uso da chupeta (que deverá ser retirada até aos 2 anos de idade), atraso no desenvolvimento global, hereditariedade, bilinguismo (por parte de familiares bilingues ou através dos atuais vídeos que as crianças veem em Português do Brasil e prejudica a aprendizagem correta da linguagem do Português Europeu), problemas neurológicos e falta de estímulo. No caso da falta de estímulo, podemos ter dois cenários: a criança não frequentar a creche, ou não ser estimulada em contexto familiar, se for o caso de corresponderem às necessidades da criança apenas quando ela aponta, sem ser necessário ela falar. Outra causa atual é a pandemia, pelo facto de as crianças estarem em confinamento, não podendo interagir com outras crianças. Além disso, o uso de máscara pelos adultos, não permite a leitura labial por parte das crianças para aprender os sons e as palavras corretamente.


Os sinais de alerta aos quais os pais deverão estar atentos são os seguintes:

Aos 12 meses:

  • Não reconhece o seu nome,

  • Não usa gestos para comunicar, tais como apontar ou acenar;

Aos 15 meses:

  • Não compreende “não”, “adeus”, “papa”;

  • Não palra ou vocaliza sons;

Aos 18 meses:

  • Não diz as primeiras palavras,

  • Prefere os gestos às vocalizações para comunicar,

  • Tem dificuldade em imitar sons,

  • Tem dificuldade em compreender ordens simples;

Aos 2 anos:

  • Não possui um vocabulário com mais de 20 palavras,

  • Palra demasiado,

  • Não combina duas palavras para formar frases,

  • Consegue apenas repetir palavras, não dizendo espontaneamente para nomear os objetos mais comuns,

  • Não consegue falar para comunicar mais do que as suas necessidades imediatas,

  • Não aponta para as partes do corpo.

A família deve conseguir perceber cerca de metade do discurso da criança aos 2 anos, e cerca de três quartos aos 3 anos. Aos 4 anos o discurso da criança deve ser percetível, mesmo por quem não a conhece.


Existem estratégias que podem estimular o desenvolvimento da linguagem da criança, e que podem ser aplicadas em contexto familiar:


  • Falar e comunicar muito com a criança, usar gestos sempre que possível com o objetivo de melhorar a compreensão, e pedir à criança para imitar os sons e os gestos. Falar sempre com clareza, usando frases curtas, simples e corretas, não devendo falar à bebé. Pedir à criança para responder a ordens simples relativamente a atividades diárias (por exemplo, “vai buscar o jogo”, “acende a luz”, “calça os sapatos”).

  • Estimular a compreensão da linguagem, explicando à criança o que estão a realizar naquele momento. Aproveitar as atividades do dia-a-dia para nomear os objetos e pedir para a criança os identificar e repetir, para aumentar o vocabulário, de preferência por categorias:

    1. Partes do corpo e peças de roupa (enquanto dá banho ou veste a criança),

    2. Alimentos (nas refeições, nas compras ou a cozinhar),

    3. Nomes de pessoas, mobília, animais, cores, números, transportes.

  • Ler para a criança, começando ainda quando é bebé, adaptando os livros à idade, de preferência livros com imagens para a criança as nomear.

Identificar e tratar o Atraso no Desenvolvimento da Linguagem de forma precoce é a melhor abordagem, para que a Terapia da Fala seja efetuada com o tempo adequado e a criança consiga comunicar e falar com eficácia muito antes da entrada no primeiro ciclo, para que haja uma correta aprendizagem da leitura e da escrita.

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