Modelagem emocional: o que os nossos comportamentos transmitem?
- Viviana Marinho
- 4 de jul.
- 2 min de leitura
As crianças aprendem a interpretar e a expressar emoções muito antes de dominarem a linguagem verbal. A forma como observam os adultos — pais, educadores, cuidadores — revela-se uma fonte poderosa de aprendizagem emocional. A isto chamamos modelagem emocional: um processo pelo qual os comportamentos, reações e atitudes dos adultos servem como referência para o desenvolvimento emocional e social da criança.
O que é a modelagem emocional?
Modelagem emocional refere-se ao modo como os adultos demonstram, conscientemente ou não, formas de sentir, expressar e regular emoções. Através da observação quotidiana, as crianças absorvem esses modelos e constroem os seus próprios mapas emocionais. Um adulto que reage com calma a um imprevisto, que verbaliza as suas emoções de forma clara ou que mostra empatia diante do sofrimento alheio, está a ensinar — sem palavras — estratégias de autorregulação, comunicação e vínculo.
O impacto na infância
Durante os primeiros anos de vida, o cérebro da criança está particularmente sensível às experiências emocionais. É nesta fase que se estruturam as bases da regulação emocional, da autoestima e da empatia. A forma como os adultos gerem as suas emoções influencia diretamente:
A capacidade da criança para lidar com frustrações;
A forma como responde a desafios e conflitos;
O modo como se relaciona com os outros;
A segurança que sente para expressar sentimentos de medo, tristeza ou alegria.
Por exemplo, um adulto que desvaloriza ou ignora emoções (próprias ou da criança) pode, sem intenção, promover o bloqueio emocional ou a repressão dos sentimentos. Por outro lado, um adulto que acolhe, nomeia e modela a gestão de emoções complexas está a criar um terreno fértil para o desenvolvimento da inteligência emocional.
O que os nossos comportamentos transmitem?
Mesmo sem verbalizar, os adultos transmitem mensagens potentes às crianças, tais como:
“É seguro sentir.” – Quando demonstramos as nossas emoções de forma equilibrada, mostramos que sentir não é sinal de fraqueza, mas parte da experiência humana.
“Os conflitos resolvem-se com respeito.” – A forma como lidamos com desacordos mostra às crianças se os conflitos são oportunidades de aprendizagem ou situações ameaçadoras.
“É possível pedir ajuda.” – Mostrar vulnerabilidade e procurar apoio ensina que partilhar emoções e procurar suporte é saudável e necessário.
Como modelar emoções de forma consciente?
Nomear o que se sente: Dizer, por exemplo, “estou um pouco ansioso com esta reunião, mas estou a respirar fundo para me acalmar” ensina a reconhecer e regular emoções.
Pedir desculpa quando necessário: Admitir um erro e pedir desculpa é um ato de humildade e responsabilidade emocional.
Praticar a empatia: Validar os sentimentos da criança com expressões como “compreendo que estejas frustrado, é difícil quando as coisas não correm como queremos”.
Cuidar do próprio bem-estar emocional: A forma como gerimos o stress, os limites e o autocuidado é um espelho para os mais novos.
Um legado silencioso, mas profundo
Modelar emoções é deixar um legado silencioso, mas profundamente enraizado. É oferecer ferramentas para que as crianças cresçam mais conscientes, equilibradas e preparadas para os desafios emocionais da vida. Não precisamos ser perfeitos — mas sim conscientes da responsabilidade afetiva que temos enquanto adultos.
Comments