Nos últimos anos tem-se escrito, falado e escutado sobre a designação “Parentalidade Consciente”. Do que se trata e como se concretiza este conceito?
A expressão “Parentalidade Consciente” traz uma nova perspetiva à nossa vida e à parentalidade e significa compreender porque fazemos o que fazemos, quebrando, assim, um ciclo de padrões repetitivos. Tendencialmente educamos segundo os nossos modelos de educação e condicionalmente surgem os “ralhetes”, os gritos como auxiliares de imposição da vontade parental, do “castigo para aprender” e raramente se questiona o impacto negativo que estas estratégias parentais podem ter na criança.
A “Parentalidade Consciente” assenta nos princípios de Mindfulness, isto é, na Atenção Plena no momento presente, sem uma atitude avaliativa e ausente de julgamentos, alinhada com os próprios valores das figuras parentais. Mais do que um receituário, by the book, esta perspetiva refere-se antes à forma como se comunica, como se gere as divergências entre pais e filhos.
Mais do que “certo ou errado”, “importante ou dispensável”, há valores transversais ao desenvolvimento humano que se adequam e integram uma prática parental expectavelmente geradora de seres empáticos, generosos, amorosos, determinados e…FELIZES (é ou não é o desejo maior de todos os pais?)!
Neste contexto, a terapeuta MiKaela Övén (2020) apresenta 4 valores base para a vida em família, com aplicabilidade prática no desenvolvimento de cada elemento.
1.Igual Valor: as opiniões, os desejos, as características, as emoções e os pensamentos de cada um devem ser respeitados e aceites de igual forma e não (des)sobrevalorizados devido à idade, ao sexo ou ao papel familiar.
2.Integridade: a “integridade” é aqui definida como a soma das emoções, dos valores e dos pensamentos de cada um. Cuidar da integridade de cada um, respeitar a própria integridade é um forte contributo para o aumento da sua autoestima e, espontaneamente para o respeito da integridade do outro. O respeito pela própria integridade expressa-se na habilidade em observar as próprias emoções, os próprios pensamentos e valores e na consequente reflexão sobre essa observação. Neste valor é desenvolvida a capacidade de se colocar no lugar do outro – empatia. A forma como este valor é expresso assenta na comunicação parental e não no “facilitismo parental”, isto é, demonstrar a compreensão do que a criança sente/quer não significa anuir que essa vontade seja concretizada quando ela quer. Mais do que fazer a vontade, é importante demonstrar que compreende que ela sinta essa vontade.
3.Autenticidade: significa “credibilidade”; capacidade de se exprimir de forma credível, em momentos de maior harmonia ou conflito. Em ambos os casos, a autenticidade deve suster a interação, expressa na criação de um ambiente de presença, abertura e credibilidade.
4.Responsabilidade: responsabilidade que tem pela própria vida, pelas próprias emoções, pelas ações e pelas escolhas pessoais. É a capacidade de se colocar na causa dos acontecimentos, e não se considerar o efeito ou a vítima do que lhe acontece. A promoção da responsabilidade pessoal é um bom preditor da designação da autonomia da criança.
Através destes valores, é estabelecido um ponto de partida para o desenvolvimento pessoal e para uma parentalidade positiva, consciente dos desafios de ser mais Pessoa!
Referência bibliográfica:
Övén, M. (2020). Educar com Mindfulness. Porto: Porto Editora.
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