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Foto do escritorAlexandra Gomes

Quando alfabetizar é uma perda de tempo

Ler e escrever não são processos espontâneos ou naturais. A competência dedicada à descodificação de símbolos que representem palavras não tem nenhuma região cerebral especialmente dedicada a si. Esta é uma habilidade tão complexa que exige do cérebro uma adaptação que envolve as áreas visual, auditiva e de linguagem.


Poucos adultos se recordam de como foi trabalhoso e demorado o processo de aquisição da capacidade de leitura. Isto porque essa modificação cerebral não aconteceu, nem pode acontecer, de um momento para o outro, mas implicou o desenvolvimento e a aquisição prévia de conhecimentos por etapas que, por ansiedade dos pais, tem vindo a ser antecipado.


Por se tratar de um processo complexo, o melhor que os pais podem fazer, segundo a Jornalista Especialista em Neurociências e Psicologia, Michele Müller, é possibilitar, desde cedo, o contacto da criança com os livros, realizar brincadeiras de consciência fonológica, ler e contar histórias e brincar às rimas e cantilenas. Desta forma são criadas as ligações cerebrais que serão tão importantes para a aquisição da capacidade de leitura.


Quanto à alfabetização propriamente dita, para que possa acontecer com tranquilidade e sucesso, deve esperar que as etapas anteriores estejam muito bem construídas e assimiladas.


Lamentavelmente este é um cenário que não se verifica numa parte das escolas e nalgumas famílias, as quais esperam que aos 6 anos as crianças já saibam ler e escrever.


Segundo a jornalista, nessa idade, as crianças ainda não estão neurologicamente preparadas para começar a ler pois ainda há áreas cerebrais necessárias para o processo de leitura – como o Giro Angular – que não estão suficientemente preparadas para uma descodificação de sucesso.


Segundo vários estudos, a “Revolução Mental”i – fase em que a criança começa a perceber que a palavra pode ser dividida em diferentes fonemas – ocorre entre os 6 e 7 anos. Assim, ao insistir na alfabetização antes de se estabelecer a consciência fonológica, é uma perda de tempo.


Muito mais importante que começar a ler cedo é começar a associar a leitura a algo agradável e prazeroso. Para isso, é dever dos pais e educadores respeitarem o ritmo e a maturidade da criança, para depois, a seu tempo, iniciar a alfabetização com sucesso.

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