A aprendizagem da leitura e da escrita é algo complexo, que requer a correspondência dos grafemas (letras) para os fonemas (sons) na leitura, e dos fonemas para os grafemas na escrita. Quando esta correspondência é uma dificuldade, surge o diagnóstico de Dislexia.
A Dislexia é uma Perturbação do Neurodesenvolvimento de origem multifatorial: origem genética, neurofuncional, neurocognitiva. Relativamente às funções neurocognitivas, o mais importante na aprendizagem da leitura e da escrita é o processamento fonológico (ou seja, consciência fonológica, nomeação rápida e memória verbal imediata). Nas crianças com Dislexia o processamento fonológico encontra-se comprometido, o que interfere significativamente na precisão leitora (descodificação da palavra e reconhecimento global da palavra), fluência leitora, compreensão leitora, na competência ortográfica (inserção, omissão, substituição e inversão de letras) e na construção de textos. Para além destas dificuldades, as crianças com Dislexia podem ainda apresentar défices neurocognitivos noutras funções, nomeadamente na memória de trabalho verbal e em funções executivas.
Dada a natureza neurodesenvolvimental desta Perturbação da Aprendizagem Específica, as crianças com Dislexia evidenciam um conjunto significativo de sinais de alerta e sintomas durante a infância e o início da idade escolar, e para os quais os pais, educadores de infância e professores deverão estar atentos:
Ø Sinais de alerta durante a infância:
Atraso no desenvolvimento da linguagem: a criança começou a dizer as primeiras palavras mais tarde do que o habitual e a construir frases;
Perturbação articulatória: a criança apresentou alguns problemas na fala durante o seu desenvolvimento, nomeadamente dificuldades em pronunciar determinados sons ou fonemas (por exemplo, /L/, /lh/, /r/);
Dificuldade na linguagem oral: a criança revelou dificuldades em construir frases lógicas e com sentido, as suas frases eram curtas e com palavras mal pronunciadas (com omissões ou substituições de fonemas);
Dificuldade na consciência fonológica: a criança revelou dificuldades nas atividades rimas e de segmentação silábica das palavras;
Dificuldade em memorizar: a criança revelou dificuldade em memorizar e recordar algumas letras, nomeadamente algumas do seu nome, em memorizar e acompanhar as canções infantis e as lengalengas;
Hereditariedade: a criança tem pessoas da família nuclear ou alargada com Dislexia ou com dificuldades de aprendizagem (hereditariedade da Dislexia).
Ø Sinais de Alerta na Idade Escolar:
Lentidão na aprendizagem da leitura e escrita: a criança apresenta desfasamento face à turma na aquisição e memorização das letras, sílabas e ditongos, bem como no reconhecimento de palavras e na automatização dos processos da leitura e escrita;
Dificuldade na consciência fonológica: a criança tem dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas ou manipular (segmentação silábica e fonémica, manipulação fonológica);
Dificuldade na velocidade da leitura: a criança revela a velocidade da leitura significativamente abaixo do esperado para a idade, e é muitas vezes uma leitura silábica e por soletração;
Dificuldades na leitura: a criança apresenta erros constantes (substituição, omissão, inserção e inversão de letras), fragilidades nos processos de descodificação e de reconhecimento de palavras;
Dificuldades na compreensão de textos: a criança apresenta dificuldade em compreender devido à sua reduzida precisão e fluência leitora, compreendendo apenas quando as histórias lhe são lidas;
A leitura e a escrita surgem com muitos erros: a criança apresenta erros fonológicas (por exemplo, troca: p-t, f-v, ch-j, nh-lh) e/ou erros lexicais (por exemplo, troca: o-u, e-i, s-ss-c-ç-x, x-ch, z-s-x, c-qu);
Dificuldade na escrita do texto: a criança apresenta dificuldade em organizar e escrever um texto;
Curtos períodos de atenção: a criança cansa-se muito rapidamente quando está a ler ou a escrever. Esta desatenção poderá ser resultante de questões emocionais ou motivacionais relacionadas com a leitura e escrita, mas também podem ser indicadores clínicos de Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção.
Apesar de alguns sinais de alerta serem evidentes durante o período pré-escolar, o diagnóstico da Dislexia só pode ser efetuado após o início da aprendizagem formal da leitura e escrita. É aconselhável no segundo ano de escolaridade.
As competências de leitura e escrita são objetivos fundamentais de qualquer sistema educativo, pois constituem aquisições iniciais que funcionam como uma base para todas as restantes aprendizagens. Estas dificuldades na leitura e na escrita podem condicionar significativamente a aprendizagem escolar. Assim, uma criança com dificuldades acentuadas na leitura e escrita apresentará lacunas nas restantes áreas curriculares, o que poderá provocar um desinteresse cada vez mais marcado por toda a aprendizagem e uma diminuição da sua autoestima. Desta forma, uma avaliação precoce da Dislexia permitirá uma intervenção atempada.
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