Hoje em dia, o tempo é escasso: tudo corre, tudo se faz rápido, faz-se sempre muito, todas as oportunidades devem ser aproveitadas, tudo deve ser experimentado e com tanto “tudo” e “sempre”, pouco tempo sobra para, simplesmente…ESTAR.
Há cerca de 40 anos, a realidade era bastante diferente: havia “tempo” disponível e este passava mais lenta e menos assoberbadamente.
Nessa altura, as crianças tinham tempo disponível para “estar”, seja para fazer o que mais gostavam, seja para aprender coisas novas, brincar, conviver ou simplesmente estar sem fazer nada! Esta perspetiva, à luz dos dias de hoje, parece estranha e claramente “do século passado”!
O horário escolar desse tempo, em grande parte das “Escolas Primárias”, era das 08 às 13h, com um intervalo de meia hora.
Os tempos eram outros, sob o olhar simultaneamente austero e doce da professora que, invariavelmente chegava às 07h45min. Nessa altura, a disciplina vigente incluía um código de conduta incontornável: quem chegasse após as 8h não entrava! Fosse qual fosse o motivo, o rigor e a disciplina estavam sempre presentes!
O objetivo da professora em chegar mais cedo era simples: abrir a sala, ter os cadernos e as sebentas na mesa, todos os alunos sentados e concentrados às 08h em ponto, para, então se dar início à aula.
A primeira aprendizagem era o foco, ou seja, as 4h30 diárias de aulas eram efetivas, trabalhando-se intensamente e com a concentração onde ela tem que estar. Por sua vez, os trabalhos de casa eram reduzidos, ou seja, chegar a casa, almoçar e terminar os trabalhos até às 15h00; depois, tempo livre para aprender, ajudar nas tarefas de casa e brincar.
Nessa altura havia tempo para tudo, tempo para estar!
Acrescido a este rigor, as atividades complementares eram bem mais reduzidas. Nessa altura, catequese, piscina e pouco mais, tudo era servido em dose semanal, tornando os fins-de-semana, um tempo adicional para “estar”.
Os anos foram passando e com eles os horários letivos foram perdendo qualidade, tudo muito sobrecarregado e muito disperso…
Hoje, ao olhar para trás, surge a seguinte reflexão: tanto conhecimento técnico e tão pouco conhecimento pessoal. Não haverá espaço para aprender a SER?
A realidade atual contrasta com a falta de “estar” nos dias de hoje, pelo excesso de atividades complementares, pelos horários escolares excessivos e pelas atividades desajustadas.
Mesmo que seja com “pouco tempo”, tudo deve ser feito, de forma a proporcionar tempo de qualidade para ESTAR!
Importância do tempo deixou de ser valorizada… hoje os dias passam a correr. E nós deixamos que estes passem sem lhe dar o devido valor. Hoje em dia, a Noção do tempo foi trocada por tarefas a fazer e ir buscar o pouco que resta para “ simplesmente parar ” e observar o mundo que nos rodeia. . .
mesmo só por uns segundos…. Não deixem de o fazer...
Porque as coisas simples da vida também servem para ser preciadas, no dia de Amanhã algo novo surgirá, e não queremos perder nada!
Obrigado pelo carinho, gostei bastante.
Lidia Silva, Aveiro.