É cada vez mais frequente depararmo-nos com crianças que têm dificuldade na articulação das palavras. A articulação verbal é um processo onde intervêm órgãos essenciais para a produção da fala, tais como os pulmões, a laringe e a cavidade oral. A articulação é o resultado da modificação do som na cavidade oral em sons denominados como vogais e consoantes ou até mesmo outras unidades fonológicas da linguagem, mais especificamente, os fonemas.
Quando a produção da fala não ocorre como seria esperado, tendo em consideração a idade e a fase de desenvolvimento da linguagem da criança, e quando estas alterações não são consequência de patologias congénitas ou adquiridas, dá-se o diagnóstico terapêutico de Perturbação Articulatória. Esta é caracterizada pela dificuldade ao nível da produção de um ou mais sons da fala em todos os contextos de palavra que, consequentemente vai interferir na inteligibilidade do discurso, podendo impedir a comunicação verbal oral.
A Perturbação Articulatória pode caracterizar-se por:
Substituição de um som por outro (por exemplo, dizer /palaço/ em vez de /palhaço/),
Omissão de um som (por exemplo, dizer /paáço/ em vez de /palhaço/),
Distorção de um som (por exemplo, dizer /palhacho/ em vez de /palhaço/).
A Perturbação Articulatória ocorre devido a uma dificuldade na realização dos movimentos pelos órgãos fonoarticulatórios, mais especificamente a língua, os lábios, o palato (céu da boca) e as bochechas. Existem diversos fatores que originam esta Perturbação Articulatória, tais como:
o Alterações anatómicas da cavidade oral (como por exemplo, freio lingual curto, palato em ogiva (alto e estreito), oclusão dentária alterada, tónus muscular alterado (hipotonia dos órgãos fonoarticulatórios), respiração oral),
o Hábitos orais nocivos (uso prolongado da chupeta e/ou do biberão além dos 2 anos de idade, sucção digital (sugar o dedo), roer as unhas).
Estes fatores podem existir com uma relação de causa-efeito, ou apenas isolados. Por exemplo, os hábitos orais nocivos, tal como o uso da chupeta, se for um uso prolongado e além dos 2 anos de idade, poderá originar um tónus muscular alterado, neste caso, diminuído. E como interfere com o posicionamento correto da língua, irá interferir também com a oclusão dentária, que por sua vez, origina alterações na articulação dos sons da fala, nomeadamente os sons sibilantes /s/, /z/, /ch/ e /j/ e a criança poderá ter o diagnóstico terapêutico de Perturbação Articulatória, mais especificamente, Sigmatismo Interdental, comummente conhecido como ”Sopinha de massa”.
Quando a criança apresenta respiração oral, por não conseguir respirar bem pelo nariz e por isso tem necessidade de respirar pela boca, o palato costuma ser em ogiva, isto é, ser alto e estreito, pelo que a língua não tem espaço para se posicionar corretamente e por isso tem tendência a adquirir uma posição mais anterior, e empurra os dentes da frente, que começam a ficar com uma oclusão dentária alterada. Desta forma, surge também o mesmo diagnóstico terapêutico acima mencionado: Perturbação Articulatória, mais especificamente, Sigmatismo Interdental, comummente conhecido como ”Sopinha de massa”.
No caso de existirem alterações estruturais da cavidade oral, como por exemplo, o freio lingual curto, irá originar dificuldade na articulação dos sons da fala.
Quando estamos perante uma Perturbação Articulatória, podem surgir situações em que a criança se sente inibida e envergonhada de falar porque ninguém compreende o que ela diz. Nestas situações, os pais e Educadores deverão encaminhar para a Terapia da Fala, que irá avaliar e intervir o mais precocemente possível de modo a que a criança possa corrigir a articulação das palavras antes da entrada no primeiro ciclo, para que aprenda corretamente a ler e a escrever com uma articulação correta, uma vez que esta interfere bastante na leitura e na escrita.
De forma a efetuar um trabalho em equipa, é imprescindível a colaboração de todos os intervenientes neste processo, tais como os pais, os professores, educadores, entre outros. Estes poderão utilizar estratégias em conjunto com o Terapeuta da Fala, nomeadamente:
Dar tempo à criança para falar adequadamente;
Não imitar os erros da fala da criança;
Aquando de produções incorretas por parte da criança, reformular, dando o modelo correto, pedir para repetir, e se for necessário, fazer a repetição por sílabas;
Incentivar a criança a expressar-se oralmente, valorizando a evolução;
Falar próximo da criança e pausadamente para que esta possa ver com atenção como se deve articular as palavras;
Ajudar a eliminar os hábitos orais nocivos;
Fazer atividades com a criança que estimulem o desenvolvimento da oralidade (por exemplo, ler um livro e pedir para nomear as imagens).
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