A morte é um acontecimento muito difícil de gerir emocionalmente, quer para os adultos, quer para as crianças.
Quando a criança perde alguém próximo, ela só quer continuar a sua vida normal, recusa as mudanças, quer manter as suas atividades, como se nada tivesse acontecido e, ao mesmo, tempo quer que os adultos saibam quando é que elas precisam de um abraço.
O processo de luto, geralmente, é vivenciado em quatro fases: negação, raiva, tristeza e aceitação. Estas fases têm uma duração particular para cada um, embora sendo muito importante serem todas vivenciadas.
As crianças, de forma mais ou menos subtil, também passam por estas fases. No entanto, como as crianças não conseguem nem querem ficar com a dor psicológica da perda durante muito tempo, é comum continuarem a brincar ou a fazer outras coisas para anularem a dor.
Porque estão no seu processo de luto, e não ignorando o significado da pessoa que morreu para as crianças, a dor reaparece de repente, muitas vezes através de uma brincadeira ou situação que recorde quem perderam. “É como se o luto chegasse, ficasse um pouco e partisse… Vem, fica e vai”, refere Mikaela Övén, Coach Parental, autora e Formadora de Parentalidade Consciente.
No seu processo de luto, a criança tem dificuldade em compreender as consequências da perda e demora a entender as consequências da perda da pessoa, do significado da morte e do facto da pessoa não regressar. Quando a perda é de alguém muito próximo como o pai, a mãe ou os avós, com um papel importante na sua educação, pode perder também a confiança na vida, nas pessoas, no futuro ou em si própria. Aquela pessoa que ela achou que ia estar sempre presente, de repente deixou de estar.
A partir daí podem surgir episódios de choro, agressividade ou de muita raiva. A criança pode também exprimir a sua culpa, tendo comportamentos regressivos, imaturos para a sua idade, como enurese noturna, dificuldades em adormecer, recusa alimentar e a formulação de inúmeras questões, numa tentativa de minimizar a dor, e para as quais nem sempre há uma resposta que a conforte.
Os adultos têm um papel fundamental nesta fase da vida da criança e o seu apoio é determinante no acolher e no suavizar uma dor tão profunda como aquela pela qual a criança está a passar.
Como podem os adultos ajudar a criança? Segundo a autora Mikaela Övén, os adultos podem ajudar da seguinte forma:
Ter disponibilidade para escutar a criança: o que sente, o que pensa, as suas histórias e todas as questões que ela coloque. Responder às perguntas da forma mais honesta possível, assumindo quando não sabe a resposta ou devolvendo a pergunta com uma pergunta, do tipo “O que te parece?”, e encontrem as respostas em conjunto.
Reconhecer e empatizar com a dor da criança. Permitir a expressão da dor pela criança, sem pressionar ou indicar como se deve expressar. Esta atitude pode passar por dar um abraço e verbalizar “Eu sei que dói”. Por vezes tentar proteger a criança da dor com distrações, conselhos ou prendas evitando os obstáculos à comunicação e adiando a vivência do inevitável.
Estar realmente presente quando se está com a criança. Mesmo que o adulto também esteja de luto, o desafio é ainda maior, mas é muito importante que este se mantenha conscientemente presente com a criança no aqui e agora.
Ser honesto. As crianças apercebem-se quando algo não está bem, por isso são em vão as distrações e as ilusões de que tudo está bem. Deve comunicar-se com a criança de forma simples, honesta e clara sobre o que se está a passar e passou, dizendo também o que sente.
Quando a criança toma a iniciativa para falar, fazer perguntas. É comum a criança guardar o seu sofrimento para que os adultos que estão a sofrer, não sofram mais. Os adultos tendem a passar que já passou e não querem recordar a criança do sucedido para que não volte a ficar triste, mas esta emoção se dissipa verdadeiramente quando se fala e escuta sobre ela.
Criar estrutura e segurança. Ajudar a criança a manter a sua rotina, rituais ou tradições e/ou criar rotinas, novos rituais e novas tradições, para a inserir numa base de estrutura e confiança.
Ser um porto seguro. A criança tem que saber que é cuidada, que existe alguém que pode oferecer um colo emocional e fisicamente seguro para acolher a sua dor. Evitar que a criança sinta que tem de assumir a responsabilidade pela dor das outras pessoas.
Oferecer diversas opções para a criança exprimir as suas emoções associadas à perda. Pode ser através do desenho, da escrita, dos trabalhos manuais, brincando ou ouvindo música.
Estimular a prática de atividade física para libertar emoções forte e desafiantes como o luto expresso em agressividade e raiva.
Praticar a meditação e mindfulness.
Cuidar de si próprio para se sentir mais preparado para a criança.
Se a criança continuar com dificuldades durante muito tempo (dormir, concentrar-te, no relacionamento com os amigos…) deve procurar ajuda profissional.
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